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23 de abr. de 2010

SSVP 1833 - 177 anos - 2010

Uma fundação permanente para hoje e para amanhã

Por
Gesiel Júnior
Cronista e pesquisador, é membro da Conferência Santa Paulina (Avaré-SP)

Identificada no Brasil popularmente pela sigla SSVP e conhecida em outros países como Conferências Vicentinas, a Sociedade de São Vicente de Paulo traz logo à mente das pessoas o bem discreto brotado nas diversas ações cotidianamente praticadas pelos seus membros em tantas regiões do mundo.
Comemoramos, a 23 de abril de 2008, os 175 anos da fundação dessa que é a mais numerosa associação católica internacional de leigos. Tal data jubilar deve nos aproximar de nossas origens. É importante, para não dizer básico, o retorno ao momento histórico da fundação da primeira Conferência porque ali vamos encontrar o impulso original para a vivência entusiasmada do nosso ideal vicentino neste milênio que começa desafiador.
É, aliás, o momento propício para cada confrade e para cada consócia parar e pensar se está vivendo com devoção o seu dever sagrado de ajudar os irmãos empobrecidos. Hora de se comprometer ainda mais. Hora de conversão pessoal e de desapego de si pela causa da caridade.
Diante do escândalo de pobrezas antigas e novas presentes também na sociedade opulenta deste novo século, como continuar a viver o ensinamento do Beato Frederico Ozanam e de seus valorosos companheiros?
Como responder às necessidades de quantos são obrigados a deixar a própria terra de origem, dos refugiados e dos clandestinos, das famílias sem direitos e sem o necessário para viver; de tantos desempregados, dos anciãos sozinhos e abandonados, dos doentes e das pessoas exploradas e tornadas escravas da avidez e do egoísmo?
Sobre estas interrogações temos que meditar bastante na busca de novas possibilidades para alargar os confins da caridade, anunciando o Evangelho na linguagem para todos bem acessível: a do amor pelos últimos.
Realmente, a cada dia que passa fica mais difícil dar testemunho de Jesus num mundo que se descristianiza, se confunde e se divide. Com efeito, o desafio de se comprometer como vicentino já está a exigir coragem, perseverança e sacrifício de todos que participamos de Conferências.
Uma volta ao começo, portanto, nos fará bem. É importante saber que nos primórdios houve muitos empecilhos superados pelos pioneiros. Remetamos a nossa memória para a agitada Paris da década de 30 do século 19, quando um grupo de homens, através da ação do Espírito Santo, se reuniram para ajudar os pobres.
Cada um deles, contribuindo com o melhor dos talentos que Deus lhes havia concedido, foi fiel instrumento para a criação de uma instituição de leigos católicos, que se estenderia por todo o mundo. Nenhum poderia prever que a sua pequena obra querida por Deus prosperaria a ponto de, quase dois séculos depois, dar acolhida a pessoas pobres em situações dramáticas, como hoje vemos no Iraque em guerra. E o sonho dessa caridade inventiva é ainda mais ousado, pois o que a SSVP pretende é transpor a grande muralha da China, onde cresce a miséria humana.
Quem, afinal, fundou a SSVP? Engana-se os que pensam que essa obra foi criada apenas pela figura esplêndida de Ozanam. Ele não foi o único fundador. Essa é uma meia verdade que empobrece a nossa sociedade. É um dado fundamental a ser corrigido porque ainda em muitos lugares há vicentinos que ignoram a realidade final da nossa fundação.
É preciso esclarecer: não existe um fundador exclusivo e individual das Conferências de São Vicente. A esta verdade, temos que ir ajustando primeiro o nosso conhecimento e, depois, a nossa atuação. Conhecer a verdade histórica e suas conseqüências para a vida de cada uma das nossas Conferências deve se tornar algo extraordinariamente necessário.
A SSVP, portanto, é fruto de um colegiado. Foram sete os membros da primeira Conferência de Caridade. Chamados pelo Senhor para essa missão, quem os motivou a viver o Evangelho e a propagá-lo entre os mais necessitados de justiça e de paz foi o próprio Deus, que assim permanece na raiz da fundação.
Agindo sob a intervenção divina desde a primeira hora, aqueles sete amigos cristãos passaram a atuar de forma “colegial” no seu novo empreendimento. Nenhum deles atribuiu a si qualquer posto de honra na fundação. A cada um só interessava levar a mensagem da partilha evangélica na condição de leigos engajados dentro da Igreja.
O mais importante a se observar no panorama fundacional da SSVP é o fato de - providencialmente - um grupo de leigos normais ter sido escolhido, na maioria jovens estudantes, para, através da ação benéfica do Espírito Santo, criar a humilde obra das Conferências de São Vicente que hoje se estendem pelo mundo inteiro.
Qual é o significado desse episódio transcorrido há exatos 175 anos? Mostra a nós, vicentinos do século 21, ser pontual renovar agora o compromisso de perseverar como dignos discípulos e continuadores da obra de Ozanam e de seus iluminados companheiros.
Mas como continuar a seguí-los de forma comprometida? Fazendo da oração e do exercício concreto da fraternidade a alma do nosso serviço aos pobres. Fazendo também com que nossas reuniões não sejam apenas ocasiões para conhecer e servir as necessidades do próximo, mas se tornem momentos de crescimento espiritual, através da escuta da Palavra de Deus, da oração fervorosa e do diálogo fraterno.
Assim, sob as luzes do mesmo Espírito que impulsionou os protagonistas da nossa fundação, a Sociedade de São Vicente de Paulo poderá sentir plenamente o respiro da Igreja e, em plena sintonia com o seu magistério, prosseguirá oferecendo aos necessitados um amor continuamente medido sobre a caridade d’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre por amor.

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