CONSTRUTOR DE REDES INTELIGENTES

21 de abr. de 2010

I - UMA CARIDADE ORGANIZADA

Em Châtillon, São Vicente descobre uma situação particular que o impele a procurar uma solução eficaz para responder às necessidades que havia. Sua reflexão o leva a superar o fato imediato para estimular e orientar eficazmente a generosidade de seus fiéis. Sua reação é feita de uma vontade de adaptação e de um desejo de organização.

Em Châtillon, desde que é posto a par da situação, ele reage. É preciso, diz São Vicente, “correr para atender às necessidades de nosso próximo como se fosse para apagar um fogo” (SV XI, 31). É preciso conhecer o que se passa. Ele sabe que é preciso se reunir com outros para realizar uma operação eficaz. Envolve-se na ação, indo sem demora à casa dos doentes de que falou, para saber das necessidades deles e lhes levar os socorros da religião. Temos aí todos os pontos de uma ação adaptada: conhecimento da situação, interesse pelo que se passa, comunicação do fato, a mobilização do maior número de pessoas e o engajamento pessoal. O que falta é a organização, e é a isso que São Vicente vai se dedicar. “Apressemo-nos lentamente”, diz ele (SV V, 396).

Hoje, as equipes da AIC são exclusivamente formadas por pessoas voluntárias de cada lugar, que respondem às situações de pobreza do momento. Acolhem pessoas que procuram ir além do que pedem, conscientes de que só se pode compreender uma pessoa (suas alegrias ou dificuldades) em ligação com seu contexto familiar e institucional (história, trabalho, escola, cultura). Depois de uma análise séria da situação de pobreza, na globalidade do sistema em que ela acontece, isto é, na sociedade local, depois de uma tomada de consciência crítica das causas que provocam esta situação de precariedade, as pessoas voluntárias elaboram projetos por escrito, que podem ser avaliados a fim de serem sempre adaptados às necessidades.

Não basta agir, se a qualidade da ação não está à altura das necessidades. Para São Vicente, a ajuda deve ser organizada para responder verdadeiramente ao fim que se propôs. Em Châtillon, nota que “os Pobres muitas vezes sofrem, é mais por falta de ordem ao atendê-los do que por falta de pessoas caridosas” (SV XIII, 423). Por isso convida em seguida algumas mulheres que se reúnam para organizar a ajuda aos Pobres. Funda então a Confraria da Caridade, redige para elas um regulamento e vai delegar tarefas e responsabilidades às pessoas da paróquia que ele inclui no processo.

A Confraria não deve ultrapassar vinte pessoas a fim de que “a confusão não entre pelo aumento de pessoas” (SV XIII, 424). Deve ser dirigida por uma responsável, ajudada por duas assistentes, uma das quais é nomeada tesoureira.. A regularidade das visitas aos Pobres e o modo de fazê-las são descritos de modo pormenorizado. Para São Vicente, a boa organização e a participação de todos é a garantia de uma verdadeira caridade.

São Vicente e Santa Luísa insistiam no fato de que os serviços deveriam serão realizados com competência e tanto um como o outro se engajaram intensamente na educação e na formação dos Pobres, sabendo, com visão pioneira, que, trabalhando contra as causas da exclusão, poderemos ajudar muitas pessoas a sair da precariedade.

Hoje, na AIC, a relação com os outros se vive sempre em equipe. A equipe é uma estrutura necessária para uma atividade duradoura, é garantia de continuidade ao longo do processo, de humildade e de intercâmbios de competências. Além disso, permite às mulheres em situação de pobreza que se comprometam a entrar num processo de autopromoção e no desenvolvimento de sua própria comunidade.

Por Benedito Domingos

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